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Resenha / Crítica: Coffee and Cigarettes / Sobre Café e Cigarros / Estados Unidos Da América / Japão


Boa Tarde! "Sobre Café e Cigarros" foi o último filme escolhido para ser resenhado aqui no blog. É uma película recente do diretor e, também, um dos seus filmes mais famosos. Na verdade, o projeto do filme foi sendo realizado com a passagem do tempo. Desde a década de 80, o diretor foi produzindo e realizando curtas com essa temática. Hum, e qual seria o assunto? Como o próprio título da película sugere, observaremos breves encontros e diálogos entre os mais diversificados tipos de personagens. É claro, não se esqueça do pequeno detalhe, as cenas são enriquecidas com a deliciosa e saudável cultura do café(s) e cigarro(s). No total, o filme é composto por onze curta-metragens, com temáticas bem diversificadas. A película é mais uma obra realizada em preto e branco, acredito que a escolha desse formato se encaixa de maneira cirúrgica com a proposta do filme. Entre as celebridades do filme encontramos Roberto Benigni, Steve Buscemi, Iggy Pop, Tom Waits, Cate Blanchet, Jack White, Meg White e Bill Murray. É verdade, com um elenco interessante como esse aqui, é impossível não arranjar um tempo para conferir esse encontro. As filmagens do filme iniciaram em 1986, o primeiro curta, Strange to Meet You, do filme foi apresentado no Saturday Night Live. O primeiro curta é bem interessante, apesar de apresentar um jogo de diálogos bem maluco. Roberto Benigni (Roberto) aguarda a chegada de Steven (Steven Wright) e, logo no começo da cena, observamos que Roberto confundi o nome de Steven com Steve. Roberto está muito nervoso, inquieto, talvez, pelo consumo exagerado de cafeína. Os personagens começam a conversar sobre café e cigarros e depois a história fica um pouco mais maluca, mas com uma boa dose de humor. Steven é um pouco mais contido e Roberto exibe um tom de voz semelhante a um grito. Enfim, o diálogo se desenvolve, mas esse não é o ponto importante. Primeiro, é muito interessante a maneira como o diretor retrata a relação dos personagens e do café e cigarro. É uma espécie de fetiche e com os demais curtas, observaremos a importância e a beleza desse saudável ritual. Gostei muito desse primeiro curta, fiquei fascinado com o cenário, simples, decadente. Parei para pensar que esse tipo de lugar está em extinção. Muito interessante. Com esse primeiro curta filmado, Jarmusch guardou a idéia durante 17 anos, filmando sempre quando tinha uma oportunidade. Assim, em 1989, Steve Buscemi encarou os gêmeos Cinqué e Joie Lee (filhos do diretor Spike Lee) num boteco para contar uma incrível história de Elvis Presley (episódio Twins). Esse segundo episódio é muito divertido, é tão absurdo a história que dá até vontade de acreditar no relato dos personagens. Três anos depois foi a vez de Iggy Pop e Tom Waits se encontrarem em um boteco (Somewhere in California), ao lado de uma jukebox, e ficarem "trocando idéias" impagáveis. É aprimeira vez que eles se conhecem ao vivo e depois de uma breve bate-papo, Iggy diz para Waits: "Cara, conheci um baterista sensacional. Assim que o vi tocando, pensei: preciso apresenta-lo para o Tom". Tom responde: "Você está querendo dizer que o som da bateria dos meus discos é uma porcaria? É isso?", hilário, fica um clima muito estranho no ar. O sarcasmo flutua no ar junto com a fumaça, que, alias, nem devia marcar presença nesse quadro, já que tanto Tom quanto Iggy haviam abandonado os cigarros por ordem médica. "Mas fumar um cigarro é um exemplo de força", provoca Tom Waits. "Só quem parou de fumar pode acender um cigarro e dizer: estou fumando um cigarro, mas eu já parei. E só para provar que sou forte vou fumar apenas um", conclui o pensamento Tom Waits. Incrédulo, Iggy Pop aceita um cigarro e os dois astros parecem ter orgasmos quando a nicotina invade o corpo. Realmente, muito engraçado e o final desse curta é bem engraçado mesmo. É de 1992, também, o quarto episódio do filme, “Those Things'll Kill Ya”, em que Joe Rignano e Vinny Vella passam o tempo discutindo os malefícios do cigarro. Logo segue o quinto episódio, "Renée", com a bela Renée French, onde ela simplesmente aparece lendo uma revista, e é periodicamente incomodada por um garçom. O sexto, “No Problem” com os atores Isaach de Bankolé e Alex Descas, onde ambos marcam um encontro, para simplismente se ver, fumar cigarros e beber café. Preocupado com o motivo do encontro, Isaach fica incessantemente perguntando ao outro, se havia algum problema, o porquê de tê-lo chamado. Alex diz que não tinha problema nenhum, que só queria vê-lo. A conversa se desenvolve por ai. Após o assunto girar em torno disso Isaach vai embora. Como assim?...rs O sétimo, “Jack Shows Meg His Tesla Coil”, com o duo do White Stripes, onde eles (Jack & Meg White) mantem uma longa conversa sobre a bobina de Tesla. Jack explica quem é Tesla e da sua genialidade, é um papo meio absurdo, mas tem uns lances bem engraçados também. A idéia que a Meg dá a Jack é algo que realmente pode surgir de uma conversa de botequim. O oitavo episódio, “Cousins”, com Cate Blanchet fazendo papel duplo e brincando com a fama, onde se apresenta como um encontro casual entre duas primas que já não se encontram há bastante tempo. Uma aparenta estar bem sucedida, e a outra, com diversos problemas. A conversa se desenvolve entre as duas de uma maneira incrívelmente natural, cheia daquelas formalidades que realmente temos, porém, mostrando nitidamente tons de sarcasmos, e pitadas de inveja da prima problematica em relação ao sucesso da outra, onde ela sempre faz questão de comparar a vida da prima com a dela. Aprima bem sucedida tenta agradar com um presente que ganhou de um patrocinador. A prima problemática "mente" e/ou se confunde ao afirmar que enviou uma carta para ela com o disco da banda do seu novo namorado. Quando se percebe essa incessante comparação, se percebe tambem uma construção psicológica bem sutil da prima problemática, externando ao expectador, uma certa baixa auto-estima da personagem, que se vê em muito contraste em relação a prima. A reação da prima bem sucedida, em relação a essas analogias, é visivelmente desconfortável. A resolução desse encontro é muito engraçado. Claro, o leitor achará engraçado se ele considerar o sarcasmo um forma de humor. O nono episódio foi o meu favorito no filme, “Cousins ?” , com Alfred Molina e Steve Coogan. Alfred convida Steve para tomar café, que está representando ele mesmo, como ator, porém mais famoso no universo do filme. Molina ao longo da conversa, depois de falar muito sobre os projetos de Steve, vai explicando o real motivo do encontro, e mostra a Steve, uma detalhada pesquisa feita comparando suas árvore-genealógicas, onde se constata ali que ambos são primos. É verdade que ambos são primos bem distantes e Coogan fica meio que desconcertado com a tal descoberta. Ele se mostra uma pessoa muito ocupada, arrogante, mas ainda mantém o mínimo de educação e boas maneiras. Alfred se mostra bastante empolgado em dar a noticia, fica fazendo diversos planos de trabalharem juntos, quem sabe, um filme que contasse essa história. Porém, Steve aparenta não estar muito animado. Molina quer se aproximar de Coogan de qualquer maneira, mas o inglês (que dispensa o café e toma chá) não corresponde a amizade. O auge da conversa foi quando, Molina, em meio a toda sua empolgação, pede o número particular de Steve, que se mostra bem seco em recusar, inventando uma desculpa de manter um hábito peculiar nunca passar seu número particular para ninguem. Durante essa explicação, ele comete vários deslizes, um deles é ter dito “não passo meu número para ninguem, nem para pessoas importantes”, insinuando que seu primo não seja uma pessoa importante, outro quando ele pergunta se o primo em questão era “gay”. Isso tudo deixa Molina com um semblante bastante triste, e ele percebe a arrogância do primo e o pouco caso que ele fez da situação toda. A situação muda quando Molina no meio da conversa recebe uma ligação de Spike Jonze, e Steve, como grande admirador do diretor, muda totalmente de ideia sobre o primo e tenta “empurrar” seu número particular, abrir a sua agenda e dar uma total atenção especial a ele. Porém, ja era tarde demais para isto, e Molina já não mostra nenhum interesse. O décimo,”Delirium”, com os rappers RZA e GZA, do Wu-Tan Clan, e o ator Bill Murray, absurdamente impagável, representando um paranoico viciado em cafeina. O último curta “Champagne”, com William Rice e Taylor Mead, é sobre dois velhos amigos, em horario de intervalo que brindam a vida transformando café em champagne num trecho bastante poético e trágico. Gostei bastante do filme, a maneira como o diretor aborda diferentes temas, personagens marginalizados, moralidade, tédio, fetiche e, principalmente, a contradição dos seus personagens. A trilha sonora é sensacional também, um espetáculo a parte. Ótimo filme. Vale a pena conferir. Obs: Extraí boa parte da resenha do blog "Cinema em Foco", gostei da resenha e realizei algumas alterações. Estava com preguiça de escrever...

Abs,

(Originalmente publicado em 11/10/2012).

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