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Resenha / Crítica: Bartleby e companhia / Editora: CosacNaify / 2000 / Autor: Enrique Vila-Matas


Boa Tarde! "Bartleby e companhia" foi mais uma prazerosa descoberta que realizei no ano de 2012. Antes de escrever mais sobre o livro e o genial autor espanhol, gostaria de escrever que Eu amo as situações que acontecem na vida e que são permeadas com a palavra "acaso". Na verdade, não é tão ao acaso assim, já que o motivador real da minha leitura foi o escritor espanhol - Enrique Vila-Matas. Atualmente, Vila-Matas é um dos narradores espanhóis mais elogiados pela crítica nacional e internacional. Até então, o único e memorável livro que li do autor foi o "Doutor Pasavento". Acredito que entrei em contato com a sua obra há uns três anos atrás. Sou um novato no conhecimento de obras literárias e autores, mas tenho ao meu favor uma intensa curiosidade em aprender a aprender. Desconstruir conceitos. Desprezar pensamentos. Hoje, ainda acredito que ter conhecimento é uma das formas mais poderosas de se alcançar determinado objetivo. Por esse motivo, procuro exercer um certo desprezo pelo poder do conhecimento. Aprecio muito o conhecimento e a descoberta de novas possibilidades. O poder Eu desprezarei para sempre. "Doutor Pasavento" é uma daquelas raras situações em que o leitor é transportado para a história. Lembro- me que na época, Eu não estava atravessando um momento muito favorável a uma leitura tão magnética. É verdade, não vou dizer que foi fácil a leitura do livro, mas Eu sabia que ali existia uma arte importante no meu aprendizado. Não contarei a história desse livro, pois no próximo ano realizarei a resenha aqui no blog. Isso mesmo, está chegando a hora de ler o livro mais uma vez. Além da obra ser muito bem escrita, a sua escrita contém elementos narrativos que me deixam fascinados. É uma escrita fragmentada, porém muito bem organizada, o que ao meu entender é uma contradição maravilhosa. Outra característica marcante é o dom do autor em envolver aspectos ficcionais com uma "suposta" realidade compartilhada com nós, os seus leitores, ou seja, é muito difícil de saber o que é ficção, fantasia ou realidade nas suas histórias. Por isso que gosto de ter esse tipo de pensamento: "O que me interessa são as histórias...". (Obs: Logo acima, escrevi que desprezo pensamentos. Só para ficar bem claro, Eu desprezo os pensamentos na hora que eu bem entender. Beijos. Gosto desse pensamento também: Vale alguma coisa?) Ainda falando sobre o Doutor Pasavento, Vila-Matas insere no universo do livro os autores J.D. Salinger, Thomas Pynchon e Robert Walser. Sinceramente, não me lembro do primeiro autor no livro. Na época da faculdade, li o livro "O Apanhador No Campo De Centeio", lembro que gostei bastante do livro, mas a história foi deletada da minha memória. Para uma pessoa que pensa muito, se esquecer das coisas é uma glória. Thomas Pynchon, lembro vagamente, mas tenho na memória que coincindiu com o lançamento do seu último livro "Contra O Dia". Fiquei interessado nesse autor também, em breve, ele estará presente aqui no blog. Lembre-se: Eu não sou inteligente, mas para me considerar um legítimo burro exige se um certo trabalho. E, finalmente, o autor suiço - Robert Walser. No livro, Walser é inspiração direta de um personagem. Eu fiquei extremamente fascinado com o personagem e desejei saber mais a respeito dessa enigmática fonte de inspiração. Inclusive, aqui no blog, já realizei a resenha de dois livros do autor. E, é claro, ano que vem teremos mais Walser para a minha alegria. Hoje, com apenas dois livros lidos do autor, Vila-Matas é o meu escritor predileto. "Bartleby e companhia" é um livro que foi inspirado no escrivão Bartleby, personagem do famoso escritor Herman Melville. A história apareceu pela primeira vez, anonimamente, na revista americana Putnam's Magazine, divida em duas partes. A primeira parte foi publicada em Novembro de 1853, e concluída na publicação em Dezembro do mesmo ano. O conto foi relançado no livro "The Piazza Tales" em 1856 com pequenas alterações. O narrador, um antigo advogado que comanda um confortável negócio, onde ajuda homens ricos a lidar com hipotecas e títulos de propriedade, relata a história do homem mais estranho que ele já conheceu. "(...)O narrador possui dois escrivães, Nippers e Turkey. Nippers sofre de indigestão crônica e Turkey é um bêbado, mas o escritório sobrevive porque pela manhã Turkey está sempre sóbrio apesar de Nippers estar irritado, na parte da tarde Nippers acalma-se e Turkey fica bêbado. Ginger nut, o office boy, possui este nome devido aos bolos que ele leva a seu patrão. O narrador publica um anúncio procurando um novo escrivão, é quando Bartleby aparece disposto a assumir o cargo. O velho homem contrata o jovem aparentemente desesperado, esperando que sua calma influencia os outros escrivães. Certo dia, quando o narrador pede a Bartleby para revisar um documento, o jovem simplesmente responde "Eu preferiria não fazer". É a primeira das várias recusas de Bartleby. Para a consternação do narrador e irritação dos outros escrivães, Bartleby executa cada vez menos suas tarefas no escritório. O narrador tenta por diversas vezes entender Bartleby e aprender sobre ele, mas o jovem repete sempre a mesma frase quando é requisitado a fazer suas tarefas ou dar informações a seu respeito: "Eu preferiria não fazer" (...)" Achei importante separar um trecho de quem é "Bartleby", afinal, ele é a principal fonte de inspiração no livro. No livro, o "personagem principal", é um cidadão sem muita sorte com as mulheres e, segundo as palavras do próprio personagem "trabalha em um escritório pavoroso". Entretanto, ele se considera uma pessoa feliz. Teremos o privilégio de acompanhar o diário do personagem, um caderno de notas de rodapé e a sua habilidade como rastreador de "Bartlebys". Antes de avançarmos mais um pouco, é importante esclarecer que o livro não é um típico romance. Não existe uma história linear, uma construção bem pavimentada, no sentido tradicional da coisa. É uma espécie de estudo de caso, um diário de idéias e pensamentos sobre um tema fixo. Bartlebys. Provavelmente, quem já leu o livro sabe que a viagem é essa mesma. E é uma história fascinante, basicamente, o narrador nos apresentará ao universo dos escritores que abandonaram a arte da escrita. Quer dizer, pelos mais diversificados motivos, definitivamente, aposentaram a sua escrita. Entraram no Hall da Fama do Silêncio. Alguns, preferiram deixar a sua literatura suspensa no ar. Tornaram-se - Bartlebys - seres em que habita uma profunda negação do mundo. Uau! Escritores que se negaram a continuar a escrever...Quem são esses escritores? O porquê de terem tomado tal atitude? Imaginem um escritor interromper, definitivamente, a arte de escrever? Achei interessante esse ato da negação, primeiramente, por uma identificação própria. Eu gosto muito da palavra "Sim", mas a palavra "Não" sempre foi um mistério enigmático e atrativo para mim. Não vou ficar filosofando aqui, não tenho formação acadêmica para isso, apesar de ter alguns conteúdos bem interessantes. O primeiro Bartleby que aparece no livro é o ilustre - Robert Walser ("Escrever que não se pode escrever também é escrever"). O suiço tem uma história de vida muito interessante, entre os muitos subempregos que teve - balconista de livraria, secretário de advogado, bancário, operário em uma fábrica de máquinas de costura e, finalmente, mordomo em um castelo da Silésia - "Robert Walser se retirava de vez em quando, em Zurique, para a "Câmara de Escrita para Desocupados" (o nome não pode ser mais walseriano, mas é autêntico), e aí, sentado em uma velha banqueta, ao entardecer, à pálida luz de um lampião de querosene, servia-se de sua graciosa caligrafia para trabalhar como copista, para trabalhar como "Bartleby" (Obs: Não é apropriado ou correto, mas achei muito legal escrever "subemprego"". Um outro autor Juan Rulfo, escreveu um romance muito famoso que se chama "Pedro Páramo". Rulfo não escreveu mais nada em trinta anos. Quando lhe perguntavam por que não escrevia mais, Rulfo costumava responder "É que morreu meu tio Celerino, que era quem me contava as histórias". Sensacional. E para concluir, separei uma passagem, o terceiro exemplo de Bartleby. Rimbaud após publicar o seu segundo livro, aos dezenove anos, abandonou tudo e dedicou-se à aventura, até sua morte, duas décadas depois. ""Habituei-me", escreve Rimbaud, "´a simples alucinação: via com toda nitidez uma mesquita no lugar de uma usina, um grupo de tambores formado por anjos, caleches nos caminhos do céu, um salão no fundo de um lago". De onde vinhas as suas alucinações? Acho que simplesmente de uma imaginação muito poderosa." O livro tem como característica esse magnetismo que te transporta até a leitura do livro. Teremos inúmeros exemplos de vários autores Bartlebys e, como não podia deixar de ser, o livro apresenta uma escrita impecável. Imagino que o autor tenha realizado uma pesquisa bem extensa e/ou tema dos "escritores da negação" seja uma idéia de longa data. É uma pena que Eu não tenha localizado algumas anotações que realizei durante a leitura do livro. Escrevo isso, pois nem todos os autores que estão presentes no livro são verdadeiros. Vila Matas criou alguns autores fictícios e teve um autor que me despertou o interesse na leitura. Pesquisei na internet e percebi que era uma invensão do autor. Sacanagem. No decorrer da leitura, o livro perde um pouco de força e interesse, chega até mesmo a soar repetitivo e um pouco cansativo. Entretanto, mesmo esse fato tendo se apresentado na leitura, só a infinidade de autores que Eu anotei para um futuro contato com a sua obra e os maravilhosos momentos de prazer e leitura....Recomendo. Ótimo Livro!.

Abs,

(Originalmente publicado em 12/11/2012).

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