top of page

1 Livro Por Semana É Pouco? Resenha / Crítica: Jakob Von Gunten / Editora: Companhia Das Letras / 20


Bom Dia! Após uma breve período de ausência no blog, retomarei o post dedicado ao universo dos livros. Escolhi em resenhar mais um livro do autor suiço Robert Walser. Aqui no blog, no mês de julho, tentei realizar uma breve resenha do livro "O Salteador (1925-1926). Acredito que não tenha obtido um grande êxito nessa tarefa, é um livro difícil, mas me senti bem ao constatar que, talvez, Eu tenha algum déficit de atenção. Retomei a leitura de Jakob Von Gunten (1909), um livro que apresenta na sua narrativa características semelhantes ao romance "O Salteador". Antes de descrever essas características, vamos conhecer um pouco da história de Jakob. No romance, Robert Walser, narra a história do jovem Jakob Von Gunten e, principalmente, da inserção do personagem no Instituto Benjamenta. A obra têm uma característica bem peculiar já que o "registro" do romance foi realizado pelo personagem numa espécie de diário. Entretanto, o suposto diário escrito pelo protagonista não é um diário convencional. Particularmente, acredito que a menção a palavra diário exerce uma função mais significativa ao leitor do que ao próprio rumo que a história se desenvolve. Afinal, no livro não temos menções a datas, horários ou dias específicos. Ao certo, somente as pausas para um novo parágrafo e as mudanças de páginas que nos ajudam a interromper o pensamento diante de determinado ponto da história. É curioso também que por inúmeras vezes o próprio protagonista da história interrompe o curso de sua narrativa. Exato, estamos diante de um personagem que será de difícil compreensão e que, provavelmente, conheceremos muito pouco de sua história de vida. Jakob ingressou no Instituto Benjamenta com a finalidade de estudar para se tornar um ajudante ou servo. No diário, Jakob, descreverá as aulas ministradas na instituição e, principalmente, alguns dos seus companheiros de escola. Aos poucos percebemos que Jakob realizará um espécie de lavagem cerebral consigo mesmo. No seu relato, ele nos descreve as qualidades, defeitos e realiza prognósticos refente ao futuro de cada um dos colegas. É curioso que as qualidades de quem serve são a paciência e a obediência. Percebemos que o protagonista é um grande pensador, apesar dele não dar a mínima para isso, ele deseja se tornar apenas eficiente e ordinário. "(...)Para mim por exemplo, vestir uniforme é muito agradável, porque nunca soube ao certo que roupa usar. Também nisso, porém, sou, por enquanto, um enigma para mim mesmo. Talvez, abrigue um ser humano bastante vulgar. Ou talvez corra algum sangue aristocrático em minhas veias. Não sei. De uma coisa tenho certeza: no futuro, o que vou ser é um zero à esquerda, muito redondo e encantador(...)". Teremos a menção de vários colegas de Instituto, mas Jakob têm um carinho e admiração muito especial por Kraus. Von Gunten acredita que Kraus é uma espécie de modelo a ser seguido devido a sua obediência as normas, cumprimento de regras, disposição em realizar as tarefas, apesar de considerá-lo desprovido de beleza externa. No decorrer da leitura, perceberemos que a instituição de ensino encontra-se em decadência. A srta. Benjamenta - irmã do Sr.Benjamenta, diretor da escola - é professora no Instituto e todos tem um enorme respeito por ela. Jakob não é diferente nessa questão, mas ele parece que desenvolve um amor platônico pela docente. É interessante a questão sexual do personagem, em diferentes momentos, perceberemos também a presença da sexualidade, mas esse fato surge como algo "puro", praticamente intocado. É como se a presença de algo se nota na sua ausência. No decorrer do livro, a relação de Jakob se desenvolve entre a srta.e o sr. Benjamenta. Teremos acontecimentos importantes entre os personagens, mas Eu achei muito curioso o fato do Sr. e da Srta. Benjamenta se relacionarem com Jakob e desenvolverem um maior grau de intimidade com o protagonista, simplesmente, por deduzirem que Von Gunten fosse de determinado jeito. É interessante, o personagem está em conflito com a sua personalidade, mas Ele mesmo não se dá conta disso. Aliás, me parece que Von Gunten convive com as diversas facetas da sua personalidade, principalmente, se dimiunindo e reprimindo os seus desejos. Talvez, apenas para se sentir em paz "não-sendo" e assim servir...Notei outro fato muito curioso no romance. Jakob escreveu o primeiro nome da Srta. Benjamenta apenas uma vez no livro. Você, leitor que leu o livro, sabe quando esse fato aconteceu na trama? Bom, teria um monte de fatos para contar, mas preferi me deter aos fatos que permaneceram na minha cabeça. É um livro interessante, assim como "O Salteador", Walser gosta de construir e desconstruir idéias e pensamentos. Aqui, temos um romance, mas Eu fiquei mais uma vez com a sensação de que os personagens são apenas o veículo utilizado pelo autor para colocar para fora de sua alma a verdadeira viagem que é ser-humano. Recomendo.

Abs,

(Originalmente publicado em 15/09/2012).

Destaque
Tags
Nenhum tag.

Parabéns! Sua mensagem foi recebida.

bottom of page