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Revista ou Livro em Quadrinhos é Literatura? - Blues / Roteiro e Arte: Robert Crumb / Editora: Conra


Boa Tarde! "Blues" é uma espécie de homenagem realizada por Robert Crumb a música americana. De maneira mais precisa é a sua tentativa de resgatar a música americana da década de 20/30. Concomitantemente, é uma expressão do artista, o seu jeito de sentir a música e o seu modo de enxergar a música definida como moderna. Nesse apanhado de histórias temos algumas preciosidades bem interessantes. Crumb nos contará a história de Charles Patton sendo que a parte mais instigante dessa narrativa é o famoso encontro de Patton com o grande "Homem Negro". Diz a lenda que "se você quiser aprender a tocar alguma coisa e aprender como a fazer suas próprias músicas, pegue o seu violão e vá para um lugar onde tenha uma encruzilhada. Tome o cuidado de chegar lá um pouco antes da meia-noite...Você fica com o seu violão tocando uma música, ali sentado, sozinho. Um grande homem negro vai caminhar até lá e pegar o seu violão,e ele vai afinar ele e depois vai tocar uma música e devolver ele para você. Foi assim que eu aprendi a tocar qualquer coisa que eu queira". E assim continua a história de Patton e, também, de outros nomes desconhecidos (Pelo menos não são conhecidos por mim...) do blues americano. É interessante que as histórias não se tratam apenas de música, temos a presença de comportamentos sociais da época, preconceitos e a evolução da sociedade. Muitas dessa histórias foram desenvolvidas na década de 70/80 e esse material foi reunido e relançado nesse formato depois de muito tempo. Existe uma sequência de histórias bem interessantes também, onde Crumb ilustra algumas músicas, ou seja, o autor expressa em forma de quadrinhos a sua maneira de sentir a música e, principalmente, a sua forma de traduzir aquela letra. É engraçado a aversão do autor ao chamado universo "pop moderno", nem mesmo Jimi Hendrix escapa do seu feroz traçado. No livro há um espaço dedicado a capas de discos desenhadas por Crumb, algumas bem interessantes, com destaque para o álbum que se chama "Harmonica Blues - Great Harmonica Performances Of The 1920´s and 1930´s". Eu já escutei esse álbum e a qualidade é muito boa, um ótimo álbum. E outra capa famosa de Crumb é a de um álbum do "Big Brother And The Holding Company - Cheaps Thrills", liderado pela vocalista Janis Joplin. O próprio Crumb tinha uma banda de blues,folk e variados, onde ele tocava violão e banjo. Temos outras histórias interessantes, Tommy Grady, uma história sensacional de música e de vida; "A Maldição de Jelly Roll Morton" é outra história de arrepiar, envolve música, superstição, fantasia e morte. Enfim, "Blues" é uma espécie de pedido de socorro de Crumb, o seu modo de realizar um protesto, de fincar bandeira mesmo, de marcar território. Particularmente, Eu sou um cara que gosta de blues, mas não sou um grande conhecedor de música. Entretanto, sou um cara muito curioso, sempre aprendo algo de interessante e de valor com as pessoas, internet, televisão e etc. Eu poderia definir Crumb como um cara reacionário, um cidadão preso em outro tempo, outra era. Acredito que consigo entender um pouco do seu sentimento frente a sociedade contemporânea. Fico imaginando como o autor se sentiria ao presenciar o sucesso de alguns estilos musicais aqui no Brasil. Enfim, para quem é apaixonado por música ou, assim como Eu, um entusiasta por conhecer ótimas histórias - "Keep On´Truckin´... - com mais ou menos melancolia.

Abs,

(Originalmente publicado em 04/08/2012).

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